terça-feira, 30 de agosto de 2011

Doce de figo


Há falta de Moscatel e de estórias, porque não se pode ter tudo na vida quando apetece. Mas o bom português arranja sempre maneira de dar uma voltinha à questão. Acho que é por isso que o país está enterrado em dívidas até à ponta dos cabelos. Mas chorar não vale a pena e prá frente é que é caminho. Um dos melhores vinhos do mundo não há-de estragar nenhuma compota, e à semelhança da do ano passado, fiz uns quantos frascos de compota aromatizada de canela e vinho do Porto. Baseada na compota da Margarida adocei os meus dias com os pingo de mel que colhi empoleirada nos ramos frágeis de duas figueiras carregadinhas. Depois de um bolo e de me empanturrar com figos frescos, só resta a compota para saborear devagar nos próximos tempos. 

Ingredientes:
500 g de figos maduros
200 g de açúcar
0,5 dl de Moscatel de Setúbal
1 pau de canela

Preparação:
Pelar os figos e triturá-los grosseiramente. Colocá-los numa panela com o açúcar, o vinho, o pau de canela e levar a lume brando durante 30-40 minutos até obter a consistência desejada. Não esquecer de ir mexendo ocasionalmente com uma colher de pau.
Guarde o doce em frascos esterilizados (escaldados em água a ferver) e secos, enchendo-os até 1 cm dos bordos. Limpe o excesso que possa cair na boca do frasco, enrosque a tampa e vire-os imediatamente de boca para baixo até o doce arrefecer.

sábado, 27 de agosto de 2011

Bolo turco de figos frescos


As manhãs começavam lentas e barulhentas com os gatos a esgaravatarem a porta do quarto em busca da ração diária. A vida sem animais de estimação fazia tão pouco sentido que, num só gesto, adoptou quem mais precisou dela. Dois gatos velhos, abandonados e tristes, caíram-lhe nas mãos e no coração. Ela sabia que o amor que lhes tinha não era igual ao que eles deixavam notar. Gatos crescidos são ainda mais desconfiados e matreiros a escolher o dono. Eles pouca escolha tiveram, era aquele casarão grande e quase vazio ou o gatil de onde vieram. Tinha sido uma escolha fácil. Tanto canto para cheirar, e cheirava bem naquela casa... principalmente quando ela insistia em colocar aquelas jarras de natureza viva em cima da mesa. O acesso ao jardim estava vedado, demasiado perigoso para uns gatos surdos e debilitados. O mundo lá fora era uma selva, e eles estavam domesticados há tanto tempo que nem se lembravam de como era antes. Nesta idade já só queriam esquecer, comer e preguiçar nos tapetes persas. Tapetes de elite, eles podiam ser persas mas não, eram apenas gatos comuns de uma dona incomum. E por isso, eram ainda mais valiosos.

Ingredientes:
4 ovos, separados
1/2 chávena de açúcar
3 colheres (sopa) de farinha, peneirada
1 1/2 chávena de iogurte grego
raspa e sumo de 1 limão
1 1/2 colher (chá) água de flor de laranjeira 
4 figos frescos, em metades


Preparação:
Pré-aqueça o forno a 180ºC. Numa tigela bata as gemas com o açúcar até ficar cremoso e leve. Adicione a farinha e envolva. Junte o iogurte, raspa e o sumo de limão mexendo até combinar. Adicione a água de flor de laranjeira. Bata as claras em castelo e envolva gentilmente à massa, usando uma espátula. Unte uma forma de 18 cm de diâmetro com manteiga. Coloque a massa na forma e as fatias de figo por cima. Leve ao forno por 50 minutos ou até o topo ficar dourado. Deixe arrefecer antes de servir.

Notas:
Não usei água de flor de laranjeira.
É sugerida uma forma de 22 cm de diâmetro mas achei demasiado grande e acabei por confirmá-lo.
Os primeiros figos que coloquei, afundaram na massa. Deixei o bolo assar mais um pouco e voltei a colocar mais 4 figos em metades.
Embora pareça "enqueijado" a massa fica húmida e leve.
Receita retirada do blog My life love food.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Cogumelos com molho de soja

Queria saber porque é que o mar lhe falava assim, sempre bruto e zangado! Não tinha lá deixado nada que não lhe pertencesse. Dizem que o mar devolve sempre aquilo que não é seu. No entanto, nem sequer tinha pescadores na família, quanto mais marinheiros de água salgada! Nunca tinha navegado, atravessou uma vez o rio, viu a outra margem e voltou a casa. Peixe não fazia parte da sua dieta, odiava tudo que viesse do mar. Por instantes, chegou a pensar que também ele tinha nascido enquanto a maré estava baixa, filho de uma lapa e um caranguejo.
O mar do norte é sempre assim, nasceu chateado com o mundo, frio como neve, áspero como lixa, sujo como a sarjeta. Nem a areia escapa ao sinal dos dias, mais parecia um pó imundo que insistia em colar-se aos pés. Aquela espuma amarelada parecia saliva no canto dos lábios quando alguém discursa nervoso. O mar fala, ele bem tenta dizer alguma coisa mas nem todos o compreendem. Saber ouvir é um dom e, enquanto se sentava defronte a apanhar aquela ventania que fustigava os cabelos gastos, ele também ia falando com o mar. Contavam um ao outro aquela amargura que os enrolava como ondas por dentro. 

Ingredientes:
225 g de cogumelos fatiados
2 dentes de alho
2 colheres (sopa) de manteiga
2 colheres (sopa) de molho de soja escuro

Preparação:
Derreta a manteiga numa frigideira em lume médio e adicione os cogumelos; cozinhe até que fiquem amolecidos (cerca de 5 minutos). Junte os dentes de alho picados e cozinhe por mais um minuto. Adicione o molho de soja e cozinhe até que o líquido tenha evaporado (cerca de 4 minutos). Sirva.

Receita retirada do blog Pip & Ebby.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Melancia marinada numa estória


Entrou acompanhado da esposa e do filho no que era o novo hospital. Tinham-lhe dito que a próxima consulta já seria nas novas instalações. Mas ele não esperava um edifício daquela dimensão! Teve que percorrer uma estradinha em paralelo até alcançar a entrada principal. Quando entrou, sentiu que aquilo era tudo menos um hospital. Tinha até um cabeleireiro no piso térreo. Imaginem só, um cabeleireiro num hospital! Acolheu-o um ambiente tão pacífico, tão amplo e limpo que mais parecia um shopping. Sim, de repente achou que era fim de semana e tinha sido arrastado pela esposa para ver as montras. Antes fosse! - pensou e suspirou nervoso.
O pior de tudo é a espera, sentar e aguardar que a menina chame. Na salinha, sentada na fila da frente, uma freira - denunciada pelo hábito - de livro aberto mas a piscar o olho para a televisão. Na fila de trás uma jovem lia pacificamente A Sentinela. Sem dúvida - pensou - Deus está aqui! Ele queria mesmo ser salvo, bastou a aflição da operação, a incerteza do futuro, o desnorte e as lágrimas. Da pior maneira tinha percebido que os homens também choram e não é pouco! Com ternura abraçava o filho ainda pequeno, senti-lo agarrado a si era o que tinha de melhor, isso e o resto da vida pela frente. Fora marcado para sempre e as duas cicatrizes na cabeça faziam-lhe lembrar disso todos os dias. Todos os dias era mais do que suficiente para abraçar os seus e para recuperar o tempo perdido. Daqui prá frente, ele sabia que todos os segundos contavam e ele fazia conta de os registar. Queria saborear tudo, incluindo o palato que Deus o fez recuperar através das mãos do senhor doutor :)

Ingredientes:
1 melancia
3 laranjas
canela em pó q.b.
1 ramo de hortelã pimenta
1 pau de canela

Preparação:
Corte a melancia e, com colher apropriada, retire-lhe a polpa em pequenas bolas. Coloque-as numa taça.
Esprema o sumo às laranjas.
Polvilhe com canela as bolinhas de melancia e junte-lhes o sumo das laranjas, o pau de canela e o ramo de hortelã.
Leve ao frigorífico e deixe repousar durante 30 minutos. Sirva assim com o sumo.



Notas:
Podem fazer com menos melancia, diminuindo a quantidade de sumo de laranja.
A colher que usei é a colher parisiense.
Receita retirada da Tele Culinária nº 1176, Setembro de 2001.

Bom fim de semana!

sábado, 13 de agosto de 2011

Coelho com mostarda


Decidi que vou intercalar as receitas de courgette, só porque me apetece e já vejo courgette em todo o lado. Parece-me que o facto de não conseguir que os meus olhos foquem direito há quase dois meses, deve ser de ver tanta courgette no blog.
Comemos coelho cerca de duas vezes por semana, a carne branca tem sempre lugar de destaque. Dizem que é mais saudável, embora mais cara, e eu acho que se não morrermos da doença, vamos morrer da cura :)
Para acompanhar, uns cogumelos salteados, cuja receita aparecerá em breve por aqui. Merece um lugar de destaque até porque pode ser acompanhamento para os mais variados pratos.


Ingredientes:
700 g de coelho
1 colher (chá) sal
pimenta de espelta q.b.
2 colheres (sopa) de mostarda Dijon
1 colher (sopa) de farinha de trigo
2 cebolas (300 g)
6 dentes de alho
1 colher (sopa) de azeite
2 hastes de alecrim
2 dl de vinho branco

Preparação:
Corte o coelho em pedaços e tempere com o sal, a pimenta e a mostarda. Coloque num saco plástico ou numa tigela, junte a farinha e agite bem. Descasque as cebolas e corte-as em gomos finos. Esborrache os dentes de alho e tire-lhes a pele. Aqueça o azeite num tacho, junte o alho e a cebola até que fiquem amolecidos. Introduza o coelho e deixe alourar. Junte o alecrim e o vinho. Tape e deixe cozinhar em lume brando até estar tenro. Se necessário, adicione água a ferver.

Notas:
Receita inspirada num folheto Pingo Doce.
A pimenta de espelta pode ser substituída por pimenta preta.

Bom fim de semana a todos!

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Brownie de courgette


Ando atónita com o estado das coisas, do mundo em geral e das pessoas em particular. Não é só por causa da violência nem da ganância ou do ódio. A falta de interesse e de preocupação com os outros é que me tem incomodado, muito! Essas pessoas não fazem parte da minha vida, mas cruzam-se comigo e eu tenho que as encarar com um sorriso no rosto sem permitir que me atormentem. Felizmente, tenho a sorte de me cercar de pessoas boas, interessadas - não interesseiras - amorosas e acolhedoras. São essas que devemos lembrar e acarinhar, manter-nos achegados a elas e agradecer o carinho.
Há muita besta neste mundo, talvez eu tenha sido uma dessas bestas para muita gente que se cruzou comigo mas, tenho certeza absoluta que, mais tarde, encontraram pessoas que compensaram a besta que conheceram :) 
À tona de água é onde precisamos permanecer, porque hoje podemos comer o pão que o diabo amassou mas, um dia, teremos à mesa uma fatia deste brownie. Garanto-vos!

Ingredientes:

2 1/4 chávena de farinha
3/4 chávena de cacau e alfarroba
1 colher (chá) bicarbonato
1 colher (chá) sal
1 chávena de açúcar
70 g de manteiga
2 ovos
1/2 chávena de buttermilk*
2 chávenas de courgette ralada
100 g de pepitas de chocolate (opcional)

Cobertura:
100 g de chocolate de culinária
100 g de leite
30 g de açúcar

Preparação:
Bater os ovos com a manteiga e o açúcar até ficar cremoso. 
Juntar a courgette e o buttermilk, misturar bem.
Juntar os ingredientes secos e bater mais um pouco até ficar homogéneo. Por fim, juntar as pepitas e misturar ligeiramente.
Levar ao forno a 175ºC durante cerca de 30 minutos ou até que um palito saia levemente húmido.
Para a cobertura, leve todos os ingredientes ao lume até ficar cremoso e homogéneo mas sem deixar ferver.
Corte o bolo aos quadrados até "meia-altura", verta a cobertura ainda quente. Deixe arrefecer e termine de cortar os quadrados.

Notas:
Receita retirada do blog Os temperos da Argas.
Fiz o bolo numa forma rectangular mas também já fiz numa forma redonda de fundo amovível. A forma rectangular é a ideal se quiserem partir aos quadradinhos e a forma redonda fica mais bonita, na minha opinião, para levar a um lanche ou jantar.
Podem usar apenas cacau. Eu usei metade de cacau e metade de farinha de alfarroba.

*Uso 1 colher (sopa) de sumo de limão para uma chávena de leite e deixo repousar por 10-15 minutos antes de usar.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Ragú de courgette


Onde é que eu fiquei mesmo? Nas courgettes, certo? Retomando a programação habitual ;)
Esta refeição ficou-me na memória, talvez tenha sido da cobertura com sabor a queijo, talvez o recheio reconfortante, mas esta é para ser repetida muitas vezes. Para além de fácil, é um prato bonito e saudável.

Ingredientes:
3 colheres (sopa) de azeite
2 cebolas, picadas
4 talos de aipo, picados
2 cenouras, picadas
2 dentes de alho, esmagados
1 ramo de ervas aromáticas
4 colheres (sopa) de concentrado de tomate
400 g de tomate de lata, picado
sal e pimenta preta, acabada de moer
1 1/2 courgettes, descascadas, sem sementes e cortadas em rodelinhas finas
90 g de miolo de pão de trigo integral
2 colheres (sopa) de salsa picada
90 g de queijo magro, rijo, ralado


Preparação:
Aqueça o azeite numa caçarola. Junte as cebolas, o aipo, as cenouras, os alhos e a mistura de ervas. Mexa bem até ficar tudo misturado. Depois, tape e cozinhe em lume médio durante cerca de 20 minutos, mexendo apenas uma vez.
Junte o concentrado de tomate e os tomates de lata com bastante tempero. Deixe levantar fervura. Adicione as courgettes e misture bem. Baixe o lume para que a mistura mal ferva, tape e deixe cozinhar muito lentamente, durante uma hora, mexendo ocasionalmente. As courgettes devem estar tenras mas não moles e espapaçadas.
Ligue o forno nos 200 ºC. Misture as migalhas de pão com o queijo e a salsa, e polvilhe por cima da mistura de courgette. Leve ao forno durante 20-30 minutos, até estar estaladiço e dourado por cima. Sirva de imediato. Se preferir, pode cozinhar a cobertura sob um grelhador ligado na posição média, até estar num tom entre o dourado e o tostado.



Notas:
Receita retirada do livro "Cozinha Vegetariana Saudável" da Janet Swarbrick.
Em relação ao tempo de cozedura, acho demasiado ser uma hora. Vão provando as courgettes para ver se estão no ponto.
Não usei aipo porque não tinha. O livro aconselha a fazer a selecção das ervas aromáticas que cada um prefere. Apenas utilizei tomilho sal-puro das Ervas da Zoé.